quarta-feira, 14 de outubro de 2009

DLIS - Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável - Augusto Franco

DLIS: UM PROJETO DE MUDANÇA DA CULTURA POLÍTICA

As considerações anteriores mostram que o DLIS também é um projeto pedagógico de mudança de cultura política. Nesse sentido, o DLIS parte da premissa de que para desenvolver a comunidade é preciso despertar o empreendedorismo individual e coletivo, incentivar a cooperação, estimular as redes e aprofundar a democracia. Haverá desenvolvimento comunitário à medida que isso for feito. Se nada for feito nesse sentido, não haverá desenvolvimento da comunidade. Então o projeto pedagógico do DLIS tem como objetivo criar condições para que as pessoas vejam o que está impedindo que elas sejam empreendedoras, cooperativas, se inter-relacionem horizontalmente em rede e exercitem a democracia. Mais do que isso, o projeto pedagógico do DLIS visa criar condições para que as pessoas vejam o que está impedindo que a comunidade onde vivem seja um ambiente que favoreça o florescimento do empreendedorismo, da cooperação, das redes e da democracia.
A pedagogia do DLIS sustenta-se na hipótese de que esses constrangimentos que impedem o desenvolvimento comunitário são, fundamentalmente, de natureza política. Têm a ver com a maneira pela qual o poder está organizado e com o modo pelo qual os conflitos de interesses são solucionados. Têm a ver, em suma, com uma cultura política que:
· desmobiliza a criatividade e a inovação levando as pessoas a repetir o que sempre fizeram. Isso é contra o empreendedorismo individual.
· desestimula o enfrentamento coletivo dos problemas comuns, transformando as pessoas em beneficiárias passivas de programas assistenciais que já vêm prontos. Isso é contra o empreendedorismo coletivo.
· substitui a cooperação que alavanca recursos da própria comunidade pela competição por recursos de fora, que serão conseguidos por algum benfeitor e oferecidos em troca de algum tipo de apoio. Isso é contra a prática da cooperação.
· impede que essa cooperação se amplie e se reproduza socialmente, alimentando a desconfiança entre as pessoas. Isso é contra a ampliação social da cooperação.
· verticaliza as relações e desestimula as conexões horizontais entre pessoas, grupos e organizações, isolando-os e deixando-os à mercê de favores de algum político poderoso. Isso é contra as redes e a favor de estruturas piramidais de poder.
· exclui as pessoas das decisões e as impede de participar dos assuntos públicos, que dizem respeito aos destinos da comunidade. Isso é contra a democracia.
Para que a comunidade possa se desenvolver é preciso se libertar da cultura política que sustenta as práticas listadas acima. Ora, só há uma maneira de fazer isso: incentivando práticas contrárias, que favoreçam o empreendedorismo individual e coletivo, a cooperação, as redes e a democracia.
Em outras palavras, é preciso devolver às pessoas a capacidade de sonhar e de correr atrás dos próprios sonhos e fortalecer a sua capacidade de comunidade, quer dizer, de compartilhar os seus sonhos e de cooperar na busca de objetivos comuns, exercendo seu protagonismo para alavancar seus próprios recursos na solução de problemas locais, conectando-se horizontalmente em rede, democratizando decisões e procedimentos e inaugurando novos processos participativos de caráter público.

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